terça-feira, 20 de setembro de 2011

O último ganido de um cão


A bruxa esperava que o cão investisse furioso contra a carroça e acelerasse os passos da mula. Sempre fazia isso, e ela aprovava. Mas, naquela madrugada, ele não se moveu. A carroça passou devagar e a bruxa esbravejava contra a lerdeza da mula. Sem coordenação motora, paralisado, o cão permaneceu estendido, em estado adiantado de loucura. Tinha passado o dia anterior fora de casa e, após longa caminhada, deu jeito de se arrastar até o terreiro. O urubu, julgando-o morto, precipitou-se animado sobre ele, certo de saciar a fome e recuperar as forças. Dez metros, cinco, quatro, três, dois, um... a firme bicada fez o cão emitir tão estridente latido que a ave voltou assustada ao espaço. O último ganido.

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