segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O único olhar de um verme


Na madrugada fria e abaçanada, à beira do rio, fez-se um pequeno furo, no meio do capim que crescia macio na areia. Um verme branco mostrou os olhos, pela primeira vez. O frio quase o fez recuar.
Apesar da temperatura, deixou o buraco; entretanto, escondido pela vegetação espessa, que parecia uma floresta, sentiu-se inseguro de se afastar do abrigo. Porém, distraiu-se... e quando percebeu, não sabia mais de onde saíra.
Arrastou-se para lá e para cá, demorou-se, veio sobre ele a luz do sol, suave, que penetrava entre as folhas do capim. Entre o verde e o nevoeiro, o verme pouco enxergava, além do brilho solar.
O urubu, em seus últimos segundos, antes de se precipitar às águas, de repente, viu à frente o pequeno verme branco. Por ímpeto natural, no uso das últimas energias, de asas estendidas, bico entreaberto, apanhou-o, mas era tarde. Alguns metros à frente, insensíveis, moviam-se as águas. Cinco metros, quatro, três, dois, um... com o baque, o verme soltou-se, contorceu-se de frio, imergiu. E lá se foi ele para o fundo, devorado ainda semi-vivo pelos peixes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário