terça-feira, 20 de setembro de 2011

A última missa do padre


O padre sorriu ao vê-la entrar. A missa já havia começado, mas ele não se importou. Conhecia a lentidão da mula e sabia que a bruxa vinha de longe, trazendo a carroça abarrotada de legumes, verduras e cereais para o seminário. Cota mensal. Pobre eqüino! Ofegava puxar a carroça por aquelas estradas íngremes, entre morros e grotas, além de enfrentar os cães, quando passava pelas casas. O povo era convocado a colaborar com o sustento dos seminaristas, e ela queria ser a mais generosa, fazendo o padre abrir-se inteiramente em risos e elogios. Pura necessidade de despertar invejas. No transcorrer da cerimônia, o padre, já idoso, foi exibindo sinais de cansaço, voz débil, olhar distante, gestos lentos... A bênção final, rumou para a sacristia, passos demorados. Dez passos... nove... oito... sete... seis... cinco... quatro... três... dois...um! O último. Morte súbita.

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