quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Semi-vivos


Naquele cenário onde habitava a bruxa, as pessoas semi-viviam sob o peso de sentimentos tóxicos. Ódio e inveja são inclinações vis, mesmo contra bruxas. Não convém perder tempo em odiar o diabo; é mais feliz quem dignifica o tempo amando o Criador e suas criaturas. Bom é investir energia aos que se abrem ao amor, deixar na indiferença os que buscam se alimentar das fraquezas humanas. A bruxa bem sabia que o ser humano, contraditório, é habitado de luzes, que movem, e de sombras, que paralisam. E ela dominava a arte de escancarar o portal das sombras. Fácil, muito fácil, liberar do coração o que é vil. Prazeres estranhos. Estava consciente a bruxa de que não havia nada que ela pudesse semear nos corações. Cabia-lhe somente o poder de revelar as maldades já instaladas dentro de cada um. Ela era apenas espelho. Este era o lado salutar da bruxa: dar à luz o que havia de tenebroso em cada coração. Porém, as pessoas não sabiam olhar para dentro, consideravam o ódio e a inveja culpa da bruxa. Fatal dispersar o olhar, quando o segredo é canalizar o olhar para si. O auto-conhecimento dói, mas purifica os que se inclinam para a sabedoria. Permanece nas sombras quem rejeita o espelho. Contudo, pode reviver quem se volta para a luz, mesmo que seja assustador deparar-se consigo mesmo.

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